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A CIDADE COMO PONTO DE ENCONTRO

No dia a dia, o jovem vive realidades bem distintas. Mas a

distância é encurtada em alguns pontos centrais, apesar

de olhares cheios de desconfiança.

LOCAL DE IGUALDADE?

É o que deveria ser, mas sabemos que o cotidiano de uma

cidade passa longe daquilo que é apresentado nas novelas

de horário nobre da TV Globo, no qual é retratado ricos e

pobres da forma mais superficial e igualitária possível.

 

História para boi dormir.
 

 

Diferente de décadas atrás, jovens residentes de centro e

periferia se entrelaçam constantemente no dia a dia da cidade,

às vezes, sem perceber, frequentam o mesmo shopping ou

evento mais badalado do final de semana, mas se engana

quem pensa que todos os paradigmas e estereótipos foram

quebrados entre eles.

 

 

Segundo o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatísticas), os jovens representam cerca de um

quarto da população brasileira, o que corresponde a 51,3

milhões de pessoas entre 15 e 29 anos.

Nosso Trabalho
Quem Somos

GIOVANNI SIMONATO "GIO"

#POLÍTICA

NO   LHO

DA RUA

Movimentos culturais ganham força e motivação política no Centro da cidade

#Política

Não é dia de maldade. As luzes que já tomam conta do Centro são-bernardense iluminam o anoitecer gelado, provavelmente de 15 graus, de uma terça-feira, às 7h30 da noite. Em meio ao badalar do sino da Igreja Matriz, uma batida diferente entoa, também indicando que os sons da cidade já não são mais perceptíveis. Na praça, a movimentação de 100 jovens entre 16 e 32 anos traz calor humano – e um novo sentido à ocupação do espaço.

Logo de cara, um salve aos presentes dá início aquela que era a 172ª Batalha de rimas improvisadas da Matrix: “Qualquer um pode chegar e fazer a sua manifestação política. A nossa cota é a propaganda para o rap, não partidária”. Ainda antes de começar o duelo de MCs anônimos, outro recado dos organizadores ao público sugere que toda mudança parte da rua e da mente de cada pessoa. Ou ali, naquele momento.

SAIBA MAIS

O convite estava dado

 

Não à toa, o evento é realizado no coração da cidade. Além da facilidade de acesso por meio dos ônibus e do corredor de trólebus, a estratégia de fazer a Batalha acontecer no centro comercial tem a ver com duas questões interligadas e importantes a toda expressão sociocultural.

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O resgate da essência política no ambiente é o primeiro aspecto. Ao mesmo tempo em que as praças públicas da Grécia Antiga eram lugares de circulação de produtos e pessoas, também se consolidavam como pontos de reflexão e diálogo. O sentido político dessa chamada Ágora grega, praça onde se discutia assuntos pertinentes à sociedade, se assemelha à ideologia de dominação do Centro pelos frequentadores da Batalha da Matrix.

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“É a política de rua” – nas palavras de um dos fundadores do movimento, Lucas Fonseca do Vale, de 24 anos.

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Desde o primeiro dia de ocupação na praça, em 7 de maio de 2013, a Batalha se constituiu como verdadeiro ponto de encontro em que se pretende a mistura de diferentes realidades e ideias, assim como é o espaço urbano central. Mas, à moda do rap, fazem a política de integração socioeconômica e de conscientização de seus pares e de quem está a fim de chegar junto – pode ser do próprio Centro, pode ser da periferia.

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Diferente da origem do final da década de 80, nos guetos norte-americanos, hoje o rap consegue atingir um público muito mais diversificado. O que não mudou, é o caráter de intervenção social da mensagem. “É o agir onde o Estado não chega”, como prefere destacar o organizador Lucas Fonseca do Vale ao se referir à importância da expansão da cultura hip-hop e periférica. E até mesmo do próprio movimento que organizou entre amigos.

Derrubando barreiras


Ainda que a Batalha da Matrix conte com a presença forte de moradores da periferia, aqueles que dispõem de melhores condições de vida também se uniram ao espetáculo e, mais do que isso: exaltam o rap e o evento como responsáveis por grandes mudanças culturais e comportamentais. 

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Foi assim que o cantor de rua e primeiro ganhador da edição semanal da Batalha, Giovanni Simonato Batistioli, o “Gio”, de 24 anos, deu novo sentido à vida. Vindo de uma família elitista com valores tradicionais, o artista passou a se desprender de todas as visões de mundo, que antes o cercava, desde quando começou a frequentar a praça da igreja nas noites de terça-feira.

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Hoje, Gio traz como responsabilidade nas composições de rap dele, as mesmas intenções de mudança que este estilo musical lhe trouxe: o lavar dos olhos. Como o artista mesmo define, o rap preenche o espaço onde a educação é falha. Mas, com cuidado para que a mensagem não seja interpretada de maneira errada. É a batida musical que resgata os jovens que estão ofuscados e que "soa como o último suspiro" para quem não enxerga mais nada como oportunidade.

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Ou para quem não se sente representado na política, assim como ele. Há quatro eleições Gio não vota e nem justifica a ausência – a percepção de atuação política dele vai além do voto ou, como se percebe, talvez nem passe por essa via. “A gente faz política em todo o lugar”, esclarece o cantor.

Dor,

arte e visibilidade

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Além de ser o point do comércio, o Centro também tem a importância de concentrar os poderes político e econômico da cidade por meio do Paço Municipal ou outras instituições como os bancos e a própria imponência da Igreja Matriz. É até por isso que manifestações culturais como a Batalha da Matrix ganham visibilidade e geram repercussão.

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O evento não reúne apenas centenas de jovens para dar vida e sentido político à ocupação do espaço urbano. O ponto-chave também está em divulgar os artistas que são invisíveis aos olhos da sociedade – segundo aspecto pelo qual o Centro é importante.

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Quem sobe ao banco improvisado de palco, para participar do duelo de rima, pode querer só tirar onda e se descontrair. Mas, uma grande parte também tem na mente a vontade de seguir carreira como MC e encontram na Batalha o caminho do profissionalismo independente. Vontade que também motiva os organizadores a darem continuidade ao projeto.

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Um dos objetivos do evento é justamente fazer com que os participantes se tornem artistas do rap nacional e ganhem dinheiro com o próprio talento. “É só a gente saber se estruturar, se politizar e trabalhar profissionalmente com a malícia do jogo do rap”, como explica Lucas do Vale.

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É pela divulgação do seu trabalho que André Felipe Salai, de 27 anos, passou a frequentar a Batalha da Matrix. O metalúrgico enfrenta o desafio de conciliar o trabalho com a carreira musical, situação que o impede de fazer shows e eventos para se firmar no meio artístico.

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Para o cantor, o segredo do sucesso está na própria letra da música. Da mesma forma que busca passar uma mensagem positiva para a garotada correr atrás e acreditar na realização dos sonhos, Salai também se transforma no próprio personagem da história que canta.

A NOSSA PRÓPRIA VOZ

ANDRÉ FELIPE SALAI

“Eu rimo há 10 anos e tenho um grupo de rap chamado Substância Poética. Nunca usei droga, nunca fiz coisa errada, sempre andei na linha. Acredito que o rap incentiva você a não fazer coisas erradas. Eu procuro sempre passar uma mensagem positiva nas letras.”

GIOVANNI "GIO" BATISTIOLI

“Se a minha letra for desviada, como que o sopro que sai da minha boca vai bater na cabeça de um menino de 11 anos, periférico e pobre, que está ouvindo? No meu rap eu evito falar de coisas rasas. O meu sopro na cabeça de uma pessoa menor que não tem formação cultural pode se tornar um furacão. Toda vez que escrevo uma letra, penso que estou fazendo uma carta para o futuro e que vou entregar na mão do meu filho.”

LUCAS FONSECA DO VALE

“O meu grupo tem essa ideologia de fazer crítica ao sistema, mas a gente também fala de festa, da zoeira da rua, do jogo do rap, fala de coisas politizadas. Não podemos falar que somos politicamente corretos ou doutrinados a falar de política. A gente vive fora disso também. Temos essa pegada sombria e ácida de abordar diversos temas.”

 VOCÊ SABE O QUE É INCLUSÃO DIGITAL?

#Ciência 

#Tecnologia

"QUANDO ESTOU APRENDENDO, ESTOU ME DIVERTINDO."

Frase de um jovem aluno de 14 anos de um projeto de inclusão digital da União de Núcleo de Associações e Moradores de Heliópolis – UNAS.

No dia 21 de setembro, quarta-feira, no período da tarde, caminhávamos pela Estrada das Lágrimas até a Rua da Mina. Entrando na viela da comunidade do Heliópolis, fomos surpreendidos pela cor forte do azul e tamanho da instituição em meio a tantas casas pequenas. Chegamos à União de Núcleo de Associações e Moradores de Heliópolis. Ou simplesmente UNAS.

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Depois de aguardarmos na recepção, o coordenador de comunicação e dos projetos de tecnologias nos levou até o espaço onde os jovens aprendem a captar e editar imagens no computador. Impressionaram o foco e a dedicação dos alunos durante a aula. Apesar de aglomerados em apenas uma parte da sala, cada um usava um notebook para editar.

 

Tanto empenho não era sem motivo. Conversando com uma menina e um menino que participam do programa, notamos que, além de gostarem muito dessas atividades, eles também melhoraram bastante seus estilos de vida após entrarem no curso. A garota, de 16 anos, decidiu se tornar fotógrafa depois de aprender a tirar fotos profissionais na UNAS e conhecer melhor o meio digital. Já o garoto, de 14 anos, ficava o dia todo em casa jogando vídeo game e ouvindo música. Agora, ele faz algo que acha “legal” em seu computador. Seria esse um lugar único? A resposta, ainda bem, é não. >

  > Em São Bernardo do Campo, encontramos o Núcleo Pequeno Cidadão, na Vila Vivaldi. Logo na entrada, uma bandeira do Japão com as palavras “bem-vindos” e “obrigado” na escrita japonesa chama a atenção. Curioso, não? Nem tanto: faz todo o sentido quando se sabe que o consulado japonês doou a maior parte tecnológica e alguns móveis da entidade.

 

Na sala da rádio web que mantém no ar, a Rádio Cidadão, surpreende o silêncio de tantas crianças, de nove a 14 anos, prestando atenção no que o “tio”, como é chamado o educador, estava ensinando. A recepção tímida da turma com a nossa presença, aos poucos foi substituída pela descontração.

 

Ao conversar com três jovens da ONG, uma unanimidade: participar dos projetos e realizar entrevistas para a rádio mudou seu o comportamento – sem contar o aprendizado com o uso de equipamentos, como gravadores, câmeras, mesa de som, entre outros.

 

Educação, comportamento e oportunidades são algumas das melhorias que a inclusão digital promove. Uma das principais dificuldades do processo de inclusão é despertar o interesse dos jovens e crianças para esses projetos. Por isso, em alguns casos, os educadores e coordenadores ouvem quais os assuntos de que os alunos querem falar sobre. *

Henrique Bulio mora na Vila São Pedro, periferia de São Bernardo do Campo.

Raquel Brick mora no Alto do Ipiranga, bairro central de São Paulo.

Giovanna Pieralli mora na Vila Gilda, bairro central de Santo André.

Nathania Oliveira mora no bairro Eldorado, periferia de Diadema.

As aparências enganam e muito, infelizmente. A estereotipação ainda é algo muito comum na nossa sociedade. Sabe aquele trocadilho que o seu professor de português da escola costumava dizer? Então, nunca julgue um livro pela capa. 

IDEIA DE QUE NÃO É SEGURO

#ENTREVISTA

Francesca Bellelli é uma jovem de 16 anos e, apesar de pouca idade, tem muita noção de assuntos que permeiam o cotidiano da sociedade e pautas dos mais diversos noticiários do país. “Fran”, como é chamada, tem hoje a intenção de cursar jornalismo quando terminar o ensino médio.

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Francesca mora no Jardins - bairro de alto padrão em São Paulo, com os pais e a irmã mais nova. Não muito longe dali, estuda no Colégio Dante Alighieri, instituição de ensino fundada por imigrantes italianos em 1911, situado na Alameda Jaú, nas proximidades da Avenida Paulista.

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Conversamos com a jovem sobre o outro lado da moeda, se teria coragem de encarar um dia em uma região periférica, o que acha das pessoas que vivem nesses locais, além questões sociais e de infraestrutura.

#Entrevista

O OUTRO LADO

Qual é a sensação que você sente quando vê imagens de morros e casas mal-acabadas em zonas conhecidas como periferias?

Esses locais me passam a ideia de que não é seguro. Tenho a sensação de que os governos deveriam olhar para esses locais com mais carinho, dar moradia e outros direitos básicos que essas pessoas merecem.

A meu ver, as periferias nasceram por causa disso. As pessoas não têm para onde ir e acabaram parando por lá. Em relação as pessoas que moram nesses locais, acredito que há muita gente boa e que não merece ser estereotipada como marginais, mas também acredito que há o contrário. Eu não entraria lá, mas é por uma questão de resistência, de não pertencimento aquele local.

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Você passaria o dia na periferia?

Não (respiro). Quando eu participei da Jornada Mundial da Juventude, fui para Teresópolis. A gente chegou aos arredores e eu já fiquei com um pouco de receio. Só de ver foi interessante, porque nunca tinha visto tão de perto. Mas as pessoas ficavam falando para não chegar próximo, como se fosse algo muito perigoso. A sensação é de que se entrar lá os caras já vão chegar, te assaltar a mão armada, umas coisas meio absurdas.

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Mesmo tendo a noção de como as coisas realmente são, como você disse, por que ainda há tanta resistência da sua parte?

Eu acho que minha cabeça ainda não está muito madura para isso. Eu teria que trabalhar um pouco mais essa ideia para realmente pensar se eu entraria e ficaria lá. Mas ainda não consigo. Tenho essa resistência e não sei o porquê. Por mais que eu pense assim, na minha cabeça, no fundo, por mais que eu fale isso, ainda fico com a imagem de que tem gente perigosa e eu não entraria lá.

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"ATÉ ALUNO RAPTADO"

"ACABO SENDO E NÃO PERCEBO"

E por que você não tem esse trauma no centro da cidade, se de fato essas coisas (ruins) também acontecem aqui?

A televisão mostra essas partes da periferia como sendo as mais perigosas, porque eles sempre relacionam alguns fatos que acontecem com gente de lá. Por exemplo, já teve gente assaltada na frente do Dante, até aluno raptado e ninguém vai pensar que uma pessoa daqui desse nicho, desse patamar, possa fazer algo desse tipo. É uma coisa que até a sociedade aqui fala isso, meus pais pensam assim também. Às vezes eu discuto com eles, que me contrariam e afirmam que estou errada e continuam achando que é perigoso. Na olimpíada, por exemplo, fizeram uma série de vídeos da favela. Mas não mostraram coisas ruins. Aparecia o “menininho” jogando futebol lá, não as cenas de roubo e assalto. 

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Como você imagina que sejam essas casas por dentro? Você acha que a pobreza que existe externamente é a mesma internamente?

Existem pessoas que são realmente pobres. Logo, o que existe por fora é igual por dentro. Mas têm outras que moram lá, nasceram lá, e não querem sair. Às vezes pode acontecer de algumas pessoas terem condições de se mudar para uma região melhor, mas não querem porque gostam de onde vivem

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Você convive com alguém da periferia, mesmo estudando em colégio de elite? Tem preconceito?

Eu não convivo. Mas eu tenho uma amiga que mora um pouco longe, mas não chega a ser periferia. Porém o caso dela é diferente, porque o avô dela estudava no colégio e ela tem bolsa por conta disso, senão não conseguiria pagar. Eu já fui na casa dela e não é tão grande assim, é alugada, em uma rua sem saída. Eu vejo que ela tem mais dificuldade do que minhas outras amigas.

Depois de todo o panorama que demos, você acha que, um dia, isso será diferente? Se acha que sim, o que precisa melhorar?

Eu não acho difícil, mas se o mundo continuar com essas mídias manipuladoras e essas pessoas com pensamentos classistas, não sei se a cabeça pode mudar. Tem que ter muita desconstrução aí. Teria que mostrar o outro lado desses lugares, não só droga e armas. Quem te rouba não são só pessoas de lá (periferia).

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Seja bem sincera: você se acha uma pessoa preconceituosa?

Não, mas existem vezes que acabo sendo e não percebo. Você pensa “não quero ser”, mas acaba sendo, como por exemplo, no começo da nossa conversa disse que não iria para a periferia passar um dia. Eu não quero, mas é da minha cabeça. Posso até ser preconceituosa nesse sentido, mas tem outras coisas que tenho certeza não ser. Não sou homofóbica, nem racista. Infelizmente, até se vê exclusão de professores negros. Na minha escola, só tem um, antes tinham dois. Também vemos muita gente sendo preconceituosa com gays e isso eu não suporto. Mas isso é complicado para mim, já que eu e minha família somos católicas e a religião interfere bastante. Meus pais são totalmente contra, até já discuti forte com eles. Eu e minha irmã demos nossos argumentos e vice-versa, mas com os pais, temos que medir as palavras. Para eles, estávamos erradas, independentemente da nossa opinião. Discutimos sobre a questão LGBT, onde eu e minha irmã somos “super” a favor. Minha mãe, por ser muito católica, acha que família tem que ser mulher e homem. Se você fala que dois homens querem ter um filho e é família, ela discorda. Nem consigo falar muito sobre isso com os meu pais se não vamos acabar brigando feio. Até evito. Mas não posso dizer que sou cem por cento não preconceituosa. *

"EU NÃO QUERO, MAS É DA MINHA CABEÇA"

#Comparativo

DE ONDE EU

SOU?

Na correria do dia a dia, passamos por várias pessoas que moram em bairros centrais e periféricos, cada uma com um estilo diferente. E aí, consegue acertar onde moram pela roupa?

#Perfil

" NÃO É FÁCIL

TRILHAR UM CAMINHO DIFERENTE "

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Meu nome é Tiago Henrique Gomes. Nasci em São Bernardo do Campo há 20 anos e cresci no Montanhão, conjunto de periferias da cidade. Poderia ser como os adolescentes do meu bairro e estar soltando pipa na rua, na laje, indo a bailes funk ou, quem sabe, pilotando uma moto. Ou fazer tudo que a maioria dos jovens do Parque São Bernardo gostam – mas não. Escolhi outro caminho e seguir o meu sonho: ter uma profissão.

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Não é fácil trilhar um caminho diferente, principalmente num lugar onde a pobreza é nítida. Moro aqui por ter sido o único lugar disponível para os meus pais construírem sua moradia. Investiram o pouco que tinham para erguer uma casa de três cômodos, que, mais tarde, virou um sobrado de seis. O dinheiro sempre foi limitado.

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Isso não brecou o sonho da minha mãe, de ter um filho “estudioso”. Apesar da baixa renda mensal dos meus pais, comecei a estudar numa escola privada aos quatro anos de idade. Mais de 70 por cento da renda era investida em mim – um peso nos meus ombros. Como precisava mostrar resultados, troquei boa parte da infância pelos estudos. 

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Transitando desde cedo entre centro e periferia, sofri por não poder comprar itens da moda e nem ir a viagens do colégio. A minha meta sempre foi aproveitar a estrutura e ter boas notas. Isso até chegar a adolescência, quando fiz amizades que me fizeram tomar atitudes “rebeldes”. Já deixei meus pais bravos por muitas vezes, afinal, que jovem não quer passar a noite com os amigos e se divertir?

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Como é de se imaginar, a diversão custava caro, ao menos para o meu padrão de vida. Além de pagar passagem de ônibus, havia alimentação e até ingressos que passavam dos R$ 50. O jeito era guardar todo dinheiro que eu ganhava dos meus pais, e , mesmo assim, não era suficiente para conseguir aproveitar as noites no shopping.

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Moro na periferia desde que me entendo por gente. Ao contrário de muitos que ali vivem, optei por seguir um outro rumo, cursar jornalismo e fotografia em busca de uma vida melhor:

Como resolver problemas de dinheiro?

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Meus vizinhos tinham a resposta na ponta da língua: vendendo drogas. Claro! É o mundo dos sonhos ganhar mais de R$ 300 em uma semana. Se eu não fosse blindado pela educação que recebi desde cedo, poderia estar nesse mundo, armado e viciado. Também tive dois bons exemplos em casa: minha mãe e avó. Ambas vieram de Belo Horizonte para São Paulo com nenhum bem material e ergueram suas vidas do zero, com muito trabalho.

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Para construir a minha vida, decidi escolher uma profissão, por mais difícil que fosse chegar até ela. Posso ter estudado em um colégio privado por esforço da família, mas não tive oportunidade de fazer cursos que são essenciais para se chegar ao emprego dos sonhos. Até hoje, me falta fluência em idiomas. Mesmo assim, optei por cursar Jornalismo.

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Os contrastes do ensino médio continuaram no ensino superior. Conheci pessoas que já possuíam seus carros próprios, outros com situação financeira estável ou até parecida com a minha. Porém, todos reunidos numa sala de aula, lutando pelo mesmo objetivo: serem jornalistas. Uma mistura de classes num único lugar.

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Foi ali que aprendi que é o meu esforço que me tornará um bom profissional ao término do curso. Vem sendo assim com o Jornalismo e com a Fotografia, outra paixão que surgiu no caminho. E seja qual a outra que apareça, também terá bastante transpiração, afinal, se minha mãe conseguiu se tornar a enfermeira chefe de um hospital, construir uma moradia dignamente e criar um filho vindo de baixo, eu também posso! Eu quero ser gente!

#Economia

E EU, QUICO?

Já imaginou o que os chineses têm a ver com seu desemprego?

Mas o que aconteceu no país para que a época da prosperidade econômica escapasse das nossas mãos?

Juliton

Daniel

Cleiton

Lucas

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“Nascemos na época da prosperidade econômica, mas agora estamos sentindo na pele os efeitos da crise”.

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Atualmente, quase 12 milhões de pessoas no Brasil estão sem emprego como o Daniel, o Juliton, o Cleiton e o Lucas. São jovens como eles que têm sido os mais atingidos pelo desemprego.

 

Desde 2013, a proporção de jovens ocupados vem caindo. Após atingir um pico de 44% no terceiro trimestre de 2012, os jovens ocupados eram apenas 37% no primeiro trimestre de 2016.

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Bonança

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Do fim dos anos 1990 até 2012, o Brasil surfava na onda dos altos preços das commodities – como são chamadas matérias primas como a soja e o petróleo. O país é um grande exportador e por isso conseguiu muito dinheiro nas negociações com o exterior.

 

Só em 2011, as exportações brasileiras alcançaram o recorde de US$ 256 bilhões, 14% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas produzidas no país.

 

O boom das commodities, fez o presidente da época, Luiz Inácio Lula da Silva, encorajar ainda mais as exportações e estimular a liberação de crédito pelos bancos públicos para financiar o desenvolvimento, criando assim milhões de empregos.

 

O modelo econômico adotado por Lula favoreceu a distribuição de renda e a expansão do consumo. Programas sociais foram expandidos e o salário mínimo aumentou 72,31%, de 2003 a 2014.

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No entanto, enquanto nós e outros mercados emergentes aproveitávamos a maré, a crise bateu na porta dos Estados Unidos. E no fim das contas, acabamos sofrendo com os reflexos dessa “visita indesejada”, pois a fraca demanda internacional no pós-crise levou à desaceleração do crescimento brasileiro.

 

Crescer pelo consumo

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Na tentativa de manter a economia aquecida, o governo estimulou o consumo: baixou a taxa básica de juros em 2009 e 2010, cortou impostos e ampliou investimentos públicos, principalmente, na área de infraestrutura.

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Ao fim do mandato de Lula, em 2010, o país registrou uma taxa de crescimento do PIB de 7,5%, a maior expansão desde 1986. Mas o estímulo ao consumo e a forte demanda por produtos não foram acompanhados pelo crescimento na produtividade. A indústria brasileira foi a primeira a dar sinais de que a coisa não ia bem.

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Com o real valorizado em relação ao dólar, houve uma invasão de produtos importados da China e a indústria nacional não acompanhou, não conseguiu competir. Em 2006, a balança comercial de produtos manufaturados no Brasil teve superávit de US$ 5 bilhões. Apenas cinco anos depois, em 2011, nós passamos a um déficit de mais de US$ 92 bilhões.

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Os preços subiram e para manter a inflação sob controle o novo governo, sob o comando de Dilma Rousseff, lançou uma política fiscal mais dura, elevando a taxa de juros para mais de 12% em 2011. Mas com a piora do contexto internacional devido à desaceleração da economia chinesa, no fim do mesmo ano, a equipe do governo deu meia volta e decidiu retomar as políticas anticíclicas, reduzindo novamente a taxa básica de juros, cortando impostos e ampliando o gasto público.

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Essa situação toda acabou por intimidar investidores e fazer muito consumidor colocar o pé no freio e pensar duas vezes antes de ir às compras. Com isso, as indústrias começaram a diminuir a produção e, consequentemente, demitir funcionários.

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Por sua vez, as famílias que já estavam com o seu poder de compra reduzido por causa da inflação, acabaram cortando gastos por conta da queda na renda, o que afetou os setores de comércio e serviços, que também demitiram.

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E não para por aí. Quanto maior a crise, mais jovens precisam sair em busca de trabalho. Se durante a bonança econômica uma parcela dessa população pode se dedicar exclusivamente aos estudos, agora precisam deixar universidades e cursos técnicos de lado ou, pelo menos, tentar conciliar trabalho com estudo.

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Se nos últimos anos, os jovens postergaram a entrada no mercado de trabalho para agregar anos de estudo, com a queda na renda real, as famílias pressionam para que eles parem de estudar ou ao mesmo tempo comecem a procurar emprego.*

E nessa roda, os primeiros que costumam a dançar são a pessoas com menos experiência e menor tempo nas empresas, os jovens.

#Documentario

PROIBIDO PARA MENORES

Eles só queriam se divertir, mas não esperavam ser barrados logo na porta.

Equipe

André Francisco

Repórter: Ciência e Tecnologia

Gabriel Russini

Construção e Idealização audiovisual 

#Entrevista

Gabriela Ribeiro

Repórter: Política ¨No Olho da Rua".

Ingryd Ovçar

Repórter: Ciência e Tecnologia

Larissa Pereira

Repórter: Economia "E EU, QUICO?"

Mariana Thibana

Repórter: Ciência  e Tecnologia

Matheus Cestari

Construção e Idealização audiovisual

#Entrevista

Susi Elena

Repórter: Política "No Olho da Rua".

Tiago Henrique Gomes

Construção e Idealização audiovisual

#Entrevista

#Perfil

Vinicius Alves

Repórter: Economia "E EU, QUICO?"

© 2016

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